terça-feira, 1 de agosto de 2017

A queda do céu: Palavras de um xamã Yanomami.


Eu não tenho velhos livros como eles, nos quais estão desenhadas as his- tórias dos meus antepassados.8 As palavras dos xapiri estão gravadas no meu pensamento, no mais fundo de mim. São as palavras de Omama. São muito antigas, mas os xamãs as renovam o tempo todo. Desde sempre, elas vêm pro- tegendo a floresta e seus habitantes. Agora é minha vez de possuí-las. Mais tarde, elas entrarão na mente de meus filhos e genros, e depois, na dos filhos e genros deles. Então será a vez deles de fazê-las novas. Isso vai continuar pelos tempos afora, para sempre. Dessa forma, elas jamais desaparecerão. Ficarão sempre no nosso pensamento, mesmo que os brancos joguem fora as peles de […]

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[…] papel deste livro em que elas estão agora desenhadas; mesmo que os missioná- rios, que nós chamamos de “gente de Teosi”,9 não parem de dizer que são mentiras. Não poderão ser destruídas pela água ou pelo fogo. Não envelhecerão como as que ficam coladas em peles de imagens tiradas de árvores mortas. Muito tempo depois de eu já ter deixado de existir, elas continuarão tão novas e fortes como agora. São essas palavras que pedi para você fixar nesse papel, para dá-las aos brancos que quiserem conhecer seu desenho. Quem sabe assim eles finalmente darão ouvidos ao que dizem os habitantes da floresta, e começarão a pensar com mais retidão a seu respeito?


Eu, um Yamomani, dou a vocês, os brancos, esta pele de imagem que é minha.

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Livro: A queda do céu : Palavras de um xamã yanomami
Autores: Davi Kopenawa e Bruce Albert
Tradução: Beatriz Perrone-Moisés
 Prefácio: de Eduardo Viveiros de Castro

Editora: Companhia das Letras, 2015, 1a ed.  São Paulo

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